Aprendendo a aprender

E por que personalizar o ensino de acordo com o estilo de cada aprendente não funciona…

Por muito tempo, mas especialmente a partir dos anos 90, há uma grande ênfase em compreender os estilos de aprendizado e uma tentativa, geralmente frustrada, de identificar como cada pessoa absorve e processa o conhecimento.

É natural que como professores e facilitadores alguns de nós tentem apontar o que funciona ou não e que estratégia é mais eficaz quando se ensina um tópico ou conteúdo específico. Afinal, a sala de aula (ou o espaço de aprendizado) acaba sendo um laboratório perfeito para a observação e a experimentação.

Por outro lado, quantas vezes como aluna, mesmo já adulta, no mestrado e doutorado, eu me vi sofrendo para aprender um conceito e/ou suas aplicações e buscava uma saída fácil – ou no mínimo digna – para o problema?

A frustração às vezes nos leva a rapidamente culparmos os professores que não conseguem transmitir o que sabem, como se fosse uma questão de mera transferência. É mais do que sabido hoje que, como já antecipava Paulo Freire, não podemos tratar a educação como um lote transferível ( a chamada “educação bancária”) e que conhecimento se constroi mutuamente (aprendizado ativo, nossa grande estrela!).

O desafio, como estudos em importantes centros de pesquisa têm demonstrado consistentemente nos últimos 20 anos, é que embora cada um de nós tenha habilidades diferentes, elas não devem ser traduzidas como estilos de aprendizado. Aliás, fazer isso, ou seja, aprender de acordo com o que cada um define como seu ‘estilo de aprender’ não garante que se aprenda mais rápido ou mesmo que se aprenda!

No meio dos anos 2000, preocupada em estar atualizada com o que de mais moderno havia no ensino de línguas, eu me deixei fascinar pelo ‘canto de sereia’ do estilo de aprendizado personalizado.

Claro que eu me perguntava como resolver a questão da personalização em grupos grandes? Como dar atenção personalizada sem perder de vista o conjunto? E foi justamente buscando respostas às minha dúvidas, observando e experimentando que, depois de algumas tentativas frustradas e profundamente decepcionantes, cheguei , na prática, às mesmas conclusões que mais tarde foram alcançadas com pesquisa científica séria.

Para ser justa comigo mesma, eu não estava sozinha quando surfava nos encantos desse método. Calcula-se que até cerca de 2014, 90% de professores em vários países ao redor do mundo realmente acreditavam nos estilos pessoais de aprender . E não era por acaso. A maioria dos estudos sobre essa teoria começa com uma visão bem positiva, antes de concluir que não funciona…

É verdade que:

  • há pessoas que se sentem mais confortáveis com imagens do que com palavras;
  • algumas têm maiores aptidões auditivas;
  • há quem prefira ler sobre o tópico estudado;

É mito que:

  • devemos ser expostos unicamente ao estilo de aprendizado que corresponde a nossas habilidades particulares.

Resumindo, algumas pessoas leem melhor do que outras e em sua maioria interpretam melhor um texto, seja literário, expositivo ou simplesmente o enunciado de uma questão. Ao contrário destas, há aqueles que preferem receber uma informação via gráfico ou mapa e nos dias atuais um grande número jura de pés juntos que se pudesse aprenderia todo o conteúdo escolar por meio de vídeos.

O fato é que em nenhum destes casos o aprendizado é completo se adotarmos um só estilo e abandonarmos os outros. As tarefas que teremos de realizar ao longo da vida exigem de nós mais do que uma habilidade (ou estilo). Especialmente nos dias atuais.

O psicólogo Daniel Willingham, da University of Virginia, que teve a oportunidade de revisar toda a literatura sobre o assunto em 2015, falou em entrevista à revista The Atlantic, em 2018, que as pessoas deveriam parar de ver a si mesmas como aprendentes visuais, verbais ou de outro tipo. “Todos são capazes de pensar em palavras; todos são capazes de pensar em imagens mentais. É muito melhor acreditar que todos têm um caixa de ferramentas para pensar, e refletir consigo mesmo: qual é a melhor ferramenta a usar?

Aprender, dependendo do que se aprende, nem sempre é um processo simples, mas deveria ser (sempre) um processo de engajamento e, se possível, de emoção.

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