Dizem que a criatividade nasce da necessidade. A evolução do mundo tem bons exemplos neste sentido. Mas isso não explica tudo. Venha refletir sobre o tema que nunca sai de moda e que neste século, além da educação, invadiu de vez o mundo corporativo.
Sou de uma geração na qual a criatividade era mitificada. Os seres criativos, esses abençoados, estavam muito acima de nós, pobres mortais. Nos anos 80, por exemplo, publicitários como Washington Olivetto eram os ungidos, os gênios modernos.
Na infância e na escola fundamental, criativos eram os que sabiam desenhar, literalmente pintar e bordar, aqueles que se saíam bem nas aulas de artes. Como meu desempenho em artes ia sempre do sofrível ao regular, meu lugar neste olimpo parecia inatingível.
Foi mais tarde, já como jornalista, que comecei, timidamente, a me permitir ser criativa. Nas reuniões editoriais de uma das revistas em que trabalhei, era comum que me chamassem para criar o chamado ‘olho da matéria’, esse pequeno texto de abertura que se segue ao título. Escrever títulos também era outra coisa que eu curtia muito criar.
Mesmo assim, ainda influenciada por anos de conversa mole, eu nunca me via como merecedora da carteirinha do sagrado clube dos criativos…

Divergir é preciso!
Em anos mais recentes, comecei a abordar a criatividade por outra perspectiva; queria ir à raiz da questão. Agora estava interessada em estudar como, afinal, a tal mágica acontece. E foi assim que descobri que criatividade não é mágica e que , longe de surgir como coelho assustado de dentro da cartola, demanda um bocado de trabalho.
Aprendi, por exemplo, que a melhor forma de ter uma boa ideia é ter antes uma porção de ideias. O tal brainstorm não é só mais um termozinho em inglês para adicionarmos ao combalido vocabulário gringo. Só depois de ouvirmos e oferecermos uma ‘chuva de ideias’, ainda que a princípio soem destrambelhadas, chegaremos à tão sonhada ideia criativa.
A questão é que apesar “de tudo, tudo o que fizemos”, ainda temos medo de falar bobagem, de propôr algo que seja ridicularizado. Isso porque ao invés de sermos ensinados a ser criativos (sim, isso é possível) somos treinados a buscar os acertos e nos envergonharmos do erro. Como se uma ideia certa não passasse antes por dezenas de outras erradas.
No fundo, esperamos que a criatividade aconteça como epifania, quando na realidade vem de uma série de práticas, entre elas a de romper com velhos hábitos e de desafiar pressupostos.
A isso se chama pensar de forma divergente. Em outras palavras, ideias convergentes em geral estão alinhadas entre si. Passam a ideia de harmonia, de concordância. No entanto, é preciso antes desenvolvermos o pensamento divergente; é dele que surgem ideias únicas, ainda não tentadas ou que buscam fazer melhor algo que já existe.
O pensamento convergente, portanto, deve vir depois. Num segundo momento, no qual as melhores ideias são combinadas para conduzir a melhores resultados.
Inovação X Criatividade
De uns tempos pra cá, algumas palavras estão cheias de moral ! Mesmo quem não está prestando muita atenção já deve ter percebido que inovadores e inovação virou arroz de festa, sobretudo entre os empreendedores (taí outra palavrinha usada à exaustão: os entregadores de aplicativo que o digam!).
Embora à primeira vista pareçam sinônimos, normalmente se atribui criatividade a algo mais espontâneo e subjetivo. Neste sentido, ter ideias criativas não levam necessariamente à ação.
Inovação, ao contrário, implica em fazer algo de fato com uma ideia criativa e é geralmente associada ao ambiente mais pragmático de negócios. Segundo a clássica definição de Theodore Levitt (o mesmo professor de negócios de Harvard que cunhou o termo globalização):
Criatividade é pensar coisas novas. Inovar é fazer coisas novas.
Ele também disse que as pessoas confundem ter ideias com implementá-las, ou seja, confundem criatividade , no abstrato, com a prática inovadora. Basicamente, segundo ele, se há ideias sem ação isso é criatividade, nunca inovação.
De qualquer forma, há uma década uma pesquisa promovida pela IBM com mais de 1500 CEOs de 60 países e de pelo menos 33 tipos de atividade industrial apontou ser criatividade a habilidade mais necessária para navegar com sucesso no complexo mundo do futuro.
Por onde começar?
Mas se criatividade não é inteiramente um dom inato e se é possível aprendermos a ser mais criativos, qual seria o melhor caminho a seguir?

Por tudo que tenho lido e aprendido, eu imagino que não exista um caminho único e que a melhor forma de sermos criativos é justamente buscando soluções criativas em todos os ambientes em que estivermos inseridos, seja a escola, o trabalho e até mesmo nossa vida pessoal.
Há muitos outros ângulos para explorarmos este tema. Este é apenas um post entre muitos outros que vão surgir por aqui, acompanhe. Para terminar, no entanto, vale anotar alguns hábitos que – especialistas de várias áreas costumam concordar – podem fomentar sua criatividade .
#Escute
- Sempre que pensamos em pessoas criativas nos vêm à cabeça personalidades audaciosas e com iniciativa. Certamente este é um bom perfil. Só não se esqueça que uma ideia criativa não é necessariamente reinventar a roda; esteja atenta/o ao que seus colegas, alunos, amigos estão dizendo e propondo. Muitas vezes a essência da mudança só precisa que alguém a reconheça.
#Observe
- O conhecimento muitas vezes tem origem na nossa percepção. Tanto quanto escutar, observar o ambiente, as práticas, os discursos e interações ao nosso redor pode nos conduzir a grandes (e criativas) ideias.
#Questione
- As melhores ideias não se iniciam com respostas mas com perguntas. É a partir da curiosidade e da vontade genuina de solucionar problemas que chegaremos às respostas. Questionar é a a habilidade de organizar nosso pensamento em torno do que não sabemos. Gere e estimule perguntas, sempre.
#Una os pontos
- Ficou famosa a frase de Steve Jobs que definiu criatividade como ‘somente conectar coisas’. Eu não sei exatamente em que contexto ele disse isso, mas na minha leitura muitas vezes o que falta é usarmos nossos recursos da melhor forma, seja delegando tarefas para explorar o potencial de cada pessoa seja ressignificando recursos e possibilidades. Muita gente pode ver os pontos, embora poucos possam uni-los de verdade.
A lista não se esgota com estes tópicos e, pelo que entendo, há várias listas dependendo do ponto de vista e interesse de quem as faz. Fique à vontade para acrecentar e compartilhar seus próprios itens.
Há algumas semanas, li em algum lugar que criatividade não é talento, é atitude. Não sei se é simples, assim, mas já adotei a máxima como lema e só de pensar nisso já me sinto mais criativa. 🙂
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Imagem em destaque:Peshkova/Canva
Maravilha de encontro!
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Que post incrível, você consiguiu chegar no ponto. Sempre me pergunto como posso ser mais criativa e comecei a perceber que quando eu ia juntando as idéias em vez de descartar de primeira eu podia ver o todo e meio que ter uma base e assim ser criativa. É muito ruim ficar pensando que tudo oq você vai fazer TEM que dar certo é melhor pensar em fazer oq você gosta e se sente bem pq se não você vai só se atrapalhar. O seu post conseguiu dizer td oq eu sentia amei.
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Que bom você ter gostado do post! E especialmente que ótimo você ter claro o processo criativo que te interessa e que funciona pra você. Não há uma única forma de sermos criativos, não é? Muito grata pelo retorno tão positivo!Volte sempre.
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