Esta semana, a última de aulas antes do recesso de Natal e Ano Novo na maior parte dos Estados Unidos, o The New York Times, por meio de seu especial Learning Network, um caderno dedicado à educação, apresentou uma seleção de sugestões para amenizar o difícil momento experimentado por alunos e professores, vindas dos próprios. Pegando carona nesta ideia, o que podemos fazer?
Os problemas nos dois países certamente não são idênticos. No entanto, neste momento, a realidade escolar nos Estados Unidos e no Brasil têm em comum uma grande instabilidade emocional e mental, que tem afetado professores, alunos e funcionários das escolas.
No caso americano, desde o início da pandemia, houve uma baixa considerável entre docentes de níveis fundamental e médio nas escolas . Um fenômeno, aliás, que afetou outras profissões e já vem sendo chamado de The Great Resignation. Só no mês de agosto, estima-se que 4,3 milhões de pessoas se demitiram de seus empregos.
No cenário da educação, a debandada deixou vários distritos escolares desfalcados de professores. Muitas escolas pemanecem alternando entre ensino virtual e presencial, alterando a rotina docente e dos estudantes e a maioria das escolas que voltaram 100% presencialmente adotaram medidas restritivas como o uso de máscara em tempo integral, monitoramento da circulação de alunos dentro dos prédios e a designação de grupos de convivência para diminuir o contato entre estudantes. Embora as medidas sejam necessárias, nem por isso deixam de ser desgastantes do ponto de vista emocional.
No Brasil, o que se vê é falta de uniformidade nas decisões e de estrutura para garantir que protocolos mais rígidos sejam implantados e monitorados. Há também grande variação na decisão de seguir com ensino online ou não, dependendo da clientela, que em muitos casos não tinha condições mínimas para acompanhar as aulas virtuais durante a parte mais drástica da pandemia. Para piorar, a situação geral do país, com o agravamento da pobreza e o descaso com procedimentos importantes para assegurar a saúde da população, tornam tudo mais estressante.
Portanto, ainda que por razões diferentes, em ambos os países professores estão precisando de uma boa dose de criatividade e afeto para que o próximo ciclo escolar seja mais leve e saudável. Anote algumas das dicas coletadas e acrescente suas próprias.
Uma aula só de bate-papo?
É mais ou menos isso. Na escola do meu filho, uma high school, que equivale ao Ensino Médio, uma vez por semana os alunos deixam suas aulas normais para se juntarem a um grupo coordenado por uma professora ou professor – muitas vezes eles nem têm aula com esta pessoa. Isso porque ali ninguém vai falar sobre a disciplina que normalmente ensinam. O programa é dedicado à saúde mental e emocional dos pupilos. Por meio de dinâmicas, rodas de conversa e jogos previamente preparados, cada docente responsável pelo grupo estimula a discussão de temas que preocupam a maioria, sempre com o obejtivo de promover o bem estar, o acolhimento e o vínculo entre os colegas. Essa iniciativa não é individual, mas da escola como um todo, e organizada pela gestão em conjunto com os docentes.

Um ritual de descontração
No fim da aula, todo dia, cada aluno tem de contar para a classe um ponto baixo do seu dia e um ponto alto. Sempre terminando, claro, com o aspecto mais positivo. Eu tinha roubado esta ideia também da escola do filhote, mas notei que nas entrevistas do New York Times alguém propõe uma atividade bem parecida. Imagino que isso seja bem comum por aqui. O que aprendi é que os estudantes ficam esperando por esse fechamento, que se tornou um ritual e faz com que os alunos, por trás de suas máscaras, acabem se conhecendo melhor. A atividade pode ser adaptada, ou seja, as perguntas podem ser diferentes a cada dia ou semana. O mais importante é garantir uns minutos de relaxamento total.
Pausa saudável
Vários dos participantes da matéria referida acima falam da importância de cultivar positividade. Numa cidadezinha de Ohio, uma professora instituiu a “Pausa Saudável”, um momento em que todo mundo para o trabalho e discute maneiras de lidar com o estresse e os sentimentos ruins. Numa das pausas, ela levou postits de várias cores e cada um escreveu suas sugestões. Depois os bilhetinhos coloridos foram afixados numa parede da sala para fácil acesso e como forma de lembrar a todos que precisamos nos cuidar. O tema de cada pausa pode ser mudado, de acordo com o que acontece no dia a dia da comunidade escolar. Da mesma forma, pode-se alternar o que fazer durante a pausa. Um dia , por exemplo, brincar com um jogo tradicional, que não requer nenhum acessório; no outro , quem sabe, um jogo de tabuleiro e, para não perder o costume, vale até uma competição divertida no Kahoot, desde que o aspecto lúdico seja o preponderante.

Humor, por favor!
O riso é transformador. Reserve uns minutos de uma aula para rir e fazer rir. Para não ficar tudo nas costas do professor, pode-se sugerir que os próprios alunos compartilhem seus cartuns ou memes preferidos ou, naqueles minutos, os interessados podem se inscrever para imitar um(a) cantor(a) famoso(a), ou para interpretar uma cena de cinema ou TV.
Meditação
Bem antes da pandemia, muitas escolas já tinham adotado a meditação como parte do currículo, com ótimos resultados. Quem sabe alguém na sua escola ou comunidade possa colaborar, compartilhando técnicas e formas convidativas de apresentar meditação a turmas de alunos e professores? O mais interessante é que muitas vezes nem é preciso desenvolver a meditação como nos acostumamos a ver, mas simplesmente praticar exercícios respiratórios. Já notou como observamos pouco nossa respiração? Tirar uns minutos do dia para respirar de forma consciente ( inspirar-expirar) com seus alunos pode trazer mais benefícios do que se pensa.
Música e dança
Mesmo que o currículo não reserve espaço para música e dança como disciplinas, ambas as opções podem trazer mais leveza e alegria à comunidade escolar. Sem competições, sem associação acadêmica, simplesmente pelo prazer de ouvir música ou cantar e mexer o corpo ao som dos acordes: um antídoto à desesperança e aos pensamentos negativos.
Flexiibilidade criativa
Você é a melhor pessoa para sentir o que seu grupo, de alunos ou de colegas, de fato precisa. O mais importante é não ter medo de buscar alternativas e perceber o que o momento pede. Na semana passada, uma professora brasileira do Fundamental contou de um aluno que estava tendo sérios problemas de indisciplina. Não conseguia ficar quieto, perturbava o andamento da aula e os colegas. Notou que ele ficava particularmente irrequieto em determinado horário. Um dia ao invés de novamente adverti-lo e constrangê-lo diante dos colegas, ela o autorizou a andar um pouco, ir ao banheiro, tomar uma água e voltar. Funcionou! Ele não só melhorou como passou a pedir para dar uma volta nos momentos em que precisasse. A medida não era punição e ele percebeu isso. Mais do que nunca é preciso ter sensibilidade para detectar problemas acentuados por essa fase e pensar em soluções criativas e não punitivas. Sem medo de perder o controle do grupo.
Tudo o que é proposto aqui não desconsidera as questões maiores. Há pouco tempo no Brasil uma professora descobriu que sua aluna passava mal de fome. É impossível não se envolver com uma situação dessa gravidade. No entanto nunca menospreze as questões vistas como menores, de cunho emocional, sejam as suas, de seus colegas ou de seus estudantes.
Por fim, embora na Claraboia os objetivos de aprendizado estejam sempre norteando as pautas, tenha certeza que o post de hoje apenas quer chamar sua atenção para a necessidade de compreendermos que precisamos de mais humanidade do que nunca durante essa fase e que as chamadas habilidades sócio-emocionais são muito mais do que palavras em um documento administrativo.
Que em 2022 todo mundo possa ser mais feliz!
MANDE SUAS SUGESTŌES E EXPERIÊNCIAS. EU ME PROPONHO A ATUALIZAR O POST PERIODICAMENTE.