O UDL Guidelines, que aqui chamaremos de Diretrizes do UDL, é um guia para a implementação de um design de educação universal, ou seja, diverso e inclusivo. Esse conjunto de diretrizes é fundamentado em pesquisas científicas sobre como acontece o aprendizado humano e tem por objetivo melhorar e otimizar o ensino e aprendizado para todas as pessoas. Se perdeu o post anterior, recomendo ler antes, para compreender melhor o tema deste.
Para quem são essas diretrizes ( guidelines)?
O público alvo das Diretrizes do UDL são educadores, desenvolvedores de currículo, pesquisadores, pais, e qualquer pessoa interessada em implementar esse modelo em um ambiente de aprendizagem. Essas diretrizes são uma lista de sugestões que orientam o design universal em qualquer disciplina ou área, para garantir que todos os aprendentes tenham acesso a oportunidades signficativas e desafiadoras de aprendizado.
É importante lembrar que essas diretrizes não são um conjunto de regras estáticas, muito ao contrário. A ideia é que sejam constantemente atualizadas com feedback tanto das instituições que se utilizam delas, como do campo de pesquisas, que continuam acontecendo. Por isso, as diretrizes estão em permanente mudança.
Nesse sentido, um dos aspectos que está em plena fase de aperfeiçoamento neste momento se refere especificamente ao enfrentamento de barreiras sistêmicas, que impedem o aprendizado equalitário. Por conta dessas barreiras, as oportunidades de aprendizado e seus resultados são muito desiguais.
Quem é (do) ou vive no Brasil, conhece bem essa realidade. E aproveito, inclusive, para lembrar que o polêmico Novo Ensino Médio de alguma forma amplia essas desigualdades à medida que impõe mudanças gerais sem levar em conta as barreiras sociais, de infra-estrutura e acessibilidade comuns na maioria das escolas públicas do país.
O CAST, centro que criou o UDL, tem como meta desenvolver um processo transparente, inclusivo e comunitário para estabelecer diretrizes que reconheçam e apresentem soluções aos tais impedimentos. A participação com ideias tem sido bastante estimulada, uma vez que as discussões continuam em andamento.

Regras iguais para um mundo desigual?
Para que seja universal, a educação tem de ser acessível a todos. Portanto, o maior desafio para quem quer aplicar o guia de implantação da UDL é exatamente ter de fazer isso inserido numa situação de extrema desigualdade social, de racismo, capacitismo e de latente homofobia e transfobia. Mas, afinal, coletivamente por justiça social e no combate à pobreza e a todo tipo de discriminação tem de ser, também, papel da educação.
Para acessar a lista completa das diretrizes (em inglês) e acompanhar seus desdobramentos, recomendo consultar o site da CAST, especialmente o UDL Guidelines . Se estiver no Twitter, acompanhe a hashtag #UDLrising
Aqui, busco comentar algumas das diretrizes para que possamos conferir se estamos ou não aplicando-as no dia a dia da educação e como podemos ficar mais atentos a elas.
Como vimos no post anterior, a UDL se divide em três grandes blocos:
Engajamento – Representação – Ação & Expressão
Ao oferecer múltiplas formas de engajamento, trabalhamos com o afeto. O porque aprendemos.
[engajamento-afeto-motivação]
Sob esse ‘guarda-chuva’ vamos nos concentrar na diretriz número 7, que trata de ‘recrutar interesse’.
A informação que não engaja a cognição do aprendente é, de fato, inacessível. E mais grave, é inacessível no momento e no futuro, porque uma informação relevante que passa despercebida, não foi processada. Sabendo disso, professores dedicam uma quantidade considerável de tempo tentando conseguir a atenção e o engajamento de seus alunos.
O problema é que não é possível engajar todos os alunos da mesma maneira, porque o que desperta sua atenção e interesse pode ser significativamente diferente do que funciona com seus colegas. O mesmo aprendente também pode demonstrar variação ao longo da vida e vai apresentar mudança na forma como se engaja de acordo com a circunstância e com o passar do tempo.
Os interesses se modificam à medida em que nos desenvolvemos e ganhamos novos conhecimentos e habilidades, assim como muda nosso ambiente biológico, por exemplo, para quem entra na adolescência e depois na vida adulta. O desafio é apresentar alternativas tendo em mente essas distinções entre alunos, tanto quanto dentro das fases pelas quais todos passam.

Vejamos o primeiro item, um dos chamados check points.
7.1: Otimize a escolha individual e a autonomia
Num ambiente de ensino é quase sempre impossível permitir ao aprendente a escolha do objetivo de aprendizado (embora existam, sim, exemplos). Mais comum é oferecermos escolhas de como os objetivos de aprendizado pré-estabelecidos podem ser alcançados, dentro de determinado contexto, e com os recursos que estão disponíveis.
Quando os aprendentes têm essa escolha tendem a desenvolver auto-determinação, orgulho por suas conquistas e demonstram aumento no nível de conexão com o que estão aprendendo. No entanto, é crucial ir além da mera oferta de opções. O engajamento só acontece com a otimização dos tipos de escolha e do nível de independência à disposição.
– Proporcione aos estudantes o máximo de autonomia, comunicando claramente:
- níveis de desafio perceptíveis;
- tipo de recompensa ou reconhecimento disponível;
- contexto ou conteúdo utilizado no qual vai praticar suas habilidades e como serão avaliadas;
- ferramentas utilizadas para a coleta ou produção de informações;
- a cor, design ou gráficos do material;
- a sequência ou o tempo para a conclusão das partes da tarefa.
– Permita que participem do design das atividades acadêmicas em sala de aula.
– Envolva os aprendentes, sempre que possível, na definição de seus próprios objetivos pessoais e acadêmicos.
A seguinte ‘checagem de rota’ tem uma pegada mais específica. Observe!
7.2 : Otimize relevância, valor e autenticidade
Todos somos envolvidos por informações e atividades que são relevantes e valiosas para nossos interesses e objetivos. Ao criar, porém, uma experiência de aprendizado ela não precisa ser equivalente à vida real, porque a ficção pode ser tão envolvente para os alunos quanto a não-ficção. O que é necessário é ser relevante e autêntica para os objetivos individuais dos alunos e para os objetivos instrucionais. Portanto:
Varie atividades e fontes de informação para que possam ser
- personalizadas e contextualizadas de acordo com as vidas dos aprendentes;
- culturalmente relevantes e adequadas;
- socialmente relevantes;
- pertinentes à idade e habilidade de cada um;
- apropriadas a diferenças culturiais, raciais, étnicas e de gênero.
Crie (design) atividades que tragam resultados de aprendizado autênticos, que comuniquem-se com audiências reais , e que reflitam uma proposta clara a todos os participantes.
Ofereça tarefas que permitam participação ativa , exploração e experimentação.
Estimule respostas pessoais, avaliações, e autorreflexão sobre o conteúdo e atividades.
Inclua atividades que fomentem o uso da imaginação para resolver novos e relevantes problemas; ou ajude a fazer sentido de ideias complexas de maneiras criativas.
Se depois de ler essa pequena amostra de sugestões, você sentir que tudo parece muito abstrato tente pensar em uma situação específica, seja um tópico que você tem de ensinar ou um problema que impede o ensino de determinado conteúdo de forma inclusiva. Analise esta opção sob a luz de algumas perguntas usando os verbos destacados acima. Quanto dessas poucas diretrizes você consegue cumprir ou tem cumprido?
Vá pensando em algumas situações concretas por aí, que eu vou pensando por aqui também. A gente continua essa conversa no próximo e último post dessa série.
+ Esta série de posts tem como base o conteúdo aberto e online da CAST. As intepretações e comentários são de minha responsabilidade.