O Universal Design for Learning (UDL) pode ser um recurso importante para um currículo com mais oportunidades de inclusão.
A educadora indígena e deputada federal Célia Xakriabá disse que : “A sociedade é como uma floresta, quanto mais diversa, mais sustentável”. Vivemos um momento em que fica claro que diversidade amplia propostas e nossa visão de mundo, portanto agiliza a resolução de problemas. E só se diversifica quando se inclui.
Por que seria diferente na educação?
Em 1984, os pesquisadores da escola do departamento de Educação da Harvard University criaram o Center for Applied Special Technology, um centro de pesquisas sem fins lucrativos, hoje simplesmente conhecido como CAST. A ideia era revolucionar a forma como estudantes com necessidades especiais aprendiam, introduzindo tecnologia que permitisse a personalização das experiências de aprendizado para alunos e professores.
Em 1990, esse objetivo evoluiu para focar nas “deficiências das escolas”, não dos indivíduos. E a inspiração veio da arquitetura urbana, com o que se chama aqui nos EUA de “curb cut”, que é aquela parte da calçada rebaixada para que cadeirantes possam acessar facilmente a rua ao atravessá-la. Esta medida acabou sendo benéfica também para um outro público, tais como pais com carrinhos de bebê, ciclistas, skatistas… Foi com essa mentalidade, ou seja, o que é essencial para alguns pode ser bom para todos, que nasceu o UDL .
O Universal Design for Learning é uma estrutura, ou uma linha de conduta, que busca minimizar as barreiras para a aprendizagem do máximo de pessoas. Isso tudo com base em evidências científicas que têm demonstrado que aprendemos de maneiras diferentes.

A universalidade proposta refere-se, sobretudo, mas não só, a um currículo que ofereça oportunidades de aprendizado igual, respeitando as diferenças, e atendendo às mais variadas necessidades e estilos. Hoje sabemos que, mesmo um grupo de alunos aparentemente uniforme, representa uma diversidade de tipos de aprendentes.
De acordo com a neurociência, o aprendizado se dá por meio de três grandes networks cerebrais:
- o Reconhecimento – o que estamos aprendendo
- o Estratégico – como estamos aprendendo
- o Afetivo – por que estamos aprendendo
Todos interagimos com essas questões em nosso processo de aprendizado, mas somos seres únicos, por isso a interação também será. Como desenhar/criar um currículo capaz de engajar estudantes tão diferentes?
É aí que entra o trabalho de design. Ao projetar as calçadas de uma cidade, ou um prédio universalmente acessível, é preciso pensar em um design flexível, que acomode e respeite necessidades específicas, como vimos por exemplo no caso das calçadas das cidades. Um vídeo também pode adotar esse princípio. Ao disponibilizar a opção de legendas para facilitar a vida de pessoas com problemas de audição, a medida acaba também beneficiando imigrantes que estão aprendendo a língua local, ou pessoas se exercitando numa grande e barulhenta academia de ginástica.
O UDL usa o conceito universalidade similarmente e o aplica ao processo de aprender, ampliando os recursos e as formas de comunicar. Dentro desse paradigma, para criar (ou desenhar) um currículo realmente universal é preciso estabelecer:
- obejtivos de aprendizado
- métodos/estratégias
- material de apoio
- avaliações
E, claro, que é preciso garantir que esses aspectos funcionem para todos, em contextos distintos.

Para começar, ao determinar seus objetivos de aprendizado, é necessário identificar e relacionar todas as possíveis barreiras que impedem que eles se concretizem. Para eliminar essas barreiras, o UDL apresenta três princípios que permitem criar trilhas de aprendizagem flexíveis, dando a cada estudante a oportunidade de progredir. São eles:
- Representação ( o quê)
Ofereça múltiplas formas de representação do tema estudado; apresente seu conteúdo e informação em formato multimídia, com várias ferramentas de apoio. Por exemplo: visualmente, com infográficos ou animação, não somente via texto convencional. Destaque as características fundamentais do tópico e ative o conhecimento prévio dos alunos. Sempre prepare um vocabulário de apoio para que ninguém fique perdido em terminologias ou jargões que desconhecem.
2. Ação e expressão (o como)
Muitas vezes a pessoa não consegue expressar o que sabe . Mesmo que realmente saiba. Por isso é importante prover seus estudantes, de qualquer idade, com a possibilidade de demonstrar o que sabem e o que estão aprendendo de múltiplas maneiras. Nesse sentido, siga a sequência: demonstrar (fornecendo um modelo), dar feedback, e dar apoio. Note que isso deve se adaptar a diferentes níveis de proficiência, por isso cheque constantemente se a comunicação é adquada e se está acontecendo.
3. Engajamento ( o por quê)
Novamente, variedade é a chave. É preciso que os aprendentes tenham escolhas que despertem seu interesse e sua autonomia. O que envolve um estudante não necessariamente envolve o outro. Ajude estimulando todos a se arriscarem e a aprenderem com os erros. Quem se envolve em seu próprio aprendizado e ama aprender vai persistir diante dos desafios. Durante essa jornada, lembre-se de nunca perder de vista seus objetivos de aprendizado.
Em suma, aqui vai mais um trio, que são conceitos básicos da UDL:
- variabilidade é regra, não exceção: estudantes não têm de fazer o mesmo ao mesmo tempo;
- todo estudante pode trabalhar para alcançar os mesmo objetivos, dentro dos mesmos padrões, de formas diferentes;
- todo estudante pode aprender se as barreiras e impedimentos ao aprendizado forem removidos e se o engajamento for aprofundado.
A partir daí cada aprendente é capaz de se diferenciar a partir das opções de aprendizado oferecidas por seus professores. Muita gente que não podia aprender, simplesmente não tinha à disposição a forma que melhor atende às suas necessidades. Para facilitar a implementação dessa mentalidade, o UDL também desenvolveu diretrizes que, longe de ser uma lista rígida de passos a ser seguida, surge como apoio para repensar como podemos trabalhar para de fato universalizar o aprendizado.
Nos próximos posts, vamos abordar um pouco dessas diretrizes e discutir alguns exemplos práticos, assim como falar do contexto brasileiro. Acompanhe!
Fonte:
Thibodeau, Tom. The Science and Research Behind the UDL Framework.
Último acesso: 21 de fevereiro de 2023.