
Trata-se de um ciclo bem claro. Professores motivados são cruciais para o sucesso dos alunos. E alunos motivados inspiram (e exigem) o melhor trabalho de seus professores. Então, por que continua sendo tão complicado encontrar motivação?
A tarefa é sempre árdua, mas este ano, particularmente, a Educação no Brasil começa em tom sombrio. Propostas de ensino domiciliar, aumento de contribuição previdenciária para os professores da rede municipal paulistana (o que tem resultado em paralisação de várias escolas), proposta de mais tempo de espera para a aposentadoria e um desrespeito total por educadores brasileiros; uma nova proposta de projeto de lei, inclusive, encoraja alunos a filmarem seus professores, jogando estudantes contra docentes, como se fôssemos inimigos…
Enquanto o clima é desanimador, a coisa boa é que motivação não segue uma receita única: é multifacetada e pode vir em vários formatos. Desafio pode ser um deles. Muitas pessoas, afinal, encontram motivação justamente quando são desafiadas.
Melhor seria que todos os países do mundo garantissem salários justos, boas condições de trabalho, formação acadêmica adequada e continuada aos professores e que a docência fosse uma profissão respeitada e dignificada pela sociedade.
Será que assim todo mundo teria mais motivação? Talvez. Quem não gosta de se sentir reconhecido e ser bem pago por seu trabalho? Mas o que se vê é que em muitos casos a motivação vem de dentro.
Não fosse assim, como explicar os (muitos) profissionais que conseguem manter-se positivos mesmo sofrendo todo tipo de restrição econômica, em escolas sem infra-estrutura mínima, salas de aulas lotadas e com alunos despreparados, vítimas de problemas familiares e sociais ?
Meu ponto aqui não é aceitar o que está errado. Ao contrário, lutar por direitos e preservar conquistas é dever de todos que entendem a importância da educação. Portanto, deveria ser dever de todos os professores, em vários níveis. Por outro lado, mesmo os experts apontam respostas contraditórias quando se tem de definir motivação, pois não há um fator motivador único. O que me motiva pode não ter efeito nenhum para o outro.
A ideia e a prática

Para o especialista e autor americano, Peter Bregman, motivação é um conceito subjetivo. No entanto, ele entende que depois de disparada a motivação, mais importante ( e difícil) é manter-se motivado. Isso porque a partir daí o processo não deve mais passar pelo crivo da mente, ou seja, deve se tranformar em ação, em prática.
Ele dá como exemplo a pessoa que decide malhar alguns dias por semana. Os motivos da decisão podem ser muitos mas o que vai fazer a diferença é sair da cama e ir à ginástica. E neste momento não se deve deixar mais espaço para os pensamentos, para as dúvidas (o tempo não está bom hoje, tenho trabalho pra terminar)… É preciso agir, ou seja, malhar. Bregman estuda motivação dentro do mundo corporativo, mas eu me pergunto como a gente pode relacionar essa percepção à realidade da sala de aula?
Já pensou naquele dia em que você sente que a classe inteira não tem o menor interesse em você ou no que você tem a ensinar? Alguém aí já teve aquele momento em que se perguntou: por que continuar?
Minha conclusão é que podemos encontrar muitos motivos para continuar acreditando no nosso trabalho e ainda assim nos sentirmos perdidos sobre como motivar nossos alunos. Aqui estou sempre falando de atividades e da importância do aprendizado ativo. A Claraboia, afinal, surge dessa consciência. Mas há cinco pontos básicos que não podem ser negligenciados.
- Postura: A forma como você se coloca diante do mundo tem um impacto considerável sobre as pessoas com quem você convive. Professores mais alegres, com atitude positiva, tendem a ser melhor aceitos pelos alunos que por sua vez se sentem mais motivados também. Queira ou não, seu humor e suas atitudes podem estabelecer um padrão de comportamento para o grupo.
- Ambiente: Somos todos afetados pelo nosso entorno. Uma escola bem cuidada, iluminada, colorida obviamente nos motiva a querer ficar e voltar no dia seguinte. Isso vale para professores e alunos. Sua escola é feia? A sala de aula é claustrofóbica? Se for impossível alterar o espaço físico da sala de aula, invista em criar o melhor ambiente de aprendizado fazendo com que todos se sintam bem-vindos e acolhidos. Faça da sua aula, um “lugar”em que as pessoas se sintam confortáveis. Envolva seus colegas e os próprios alunos nesse propósito.
- Agência: Trate cada aluno como um indivíduo, atribua a cada um deles um papel dentro do contexto do seu curso, dentro da narrativa da sua prática pedagógica. Quando a gente se sente parte de alguma coisa de verdade, não como simples figurantes mas como protagonistas, há mais chances de nos envolvermos e nos motivarmos.
- Criatividade: Criança, jovem, adulto… não importa quem sejam seus alunos, todo mundo gosta de um pouco de surpresa, de novidade, de formas interessantes de aprender, mesmo que o assunto seja complexo. Criatividade, aliás, também é uma via de mão dupla: inspira quem cria e quem usufrui da criação . Energia criativa é ferramenta de ensino poderosa!
- Colaboração: A ideia de trabalhar em grupos parece velha. Mas além de selecionar atividades que envolvam todos os membros da equipe a dica é observar como os alunos interagem durante as dinâmicas. Quando conhecemos a forma como cada estudante ‘participa’ podemos gradual e sutilmente interferir e organizar grupos em que cada um passe a cobrar do outro o seu melhor e a apoiar a integração de todos. Em pequenas dinâmicas, é mais fácil descobrir os ‘agregadores’ e ‘motivadores’.
Pode ser que você já faça tudo isso. Pode ser que nunca tenha pensado em motivação como algo que merece tempo de reflexão e ação. Pessoalmente, sei que embora pareçam pontos muito simples, nem sempre é possível desenvolvê-los plenamente. O primeiro passo é tentar e refletir sobre as propostas para compreender como se pode adotá-las e incorporá-las a seu dia a dia.
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Fotos: IconO.com/ Lukas Hartman (Creative Commons).