Quem ensina cotidianamente sabe que nem sempre é fácil manter um ambiente dinâmico, agradável e ainda dar conta de ensinar todo o programa…
Verdade seja dita, muitas das belas atividades que temos na manga do casaco acabam se perdendo na correria do ano letivo. Não sei quantas vezes me lamentei, depois de uma aula que poderia ter sido melhor, por não ter tido a energia ou o plano correto para colocar em prática uma ideia fantástica.
Costumo dizer por aqui que fomos de alguma forma treinados a associar criatividade a algo mágico, quase um dom divino dado a poucos seres abençoados.
Não há dúvida que algumas pessoas são mais, naturalmente , criativas que outras. Por outro lado, é fato que muitas vezes a criatividade nasce da necessidade, da vontade de levar até o outro uma mensagem importante que, sem uma dose de invencionice, acabaria se perdendo.

Não é todo dia que você vai conseguir dar uma aula memorável. Se fosse assim deixaria de ser memorável, certo? Mas há alguns padrões (ou procedimentos) que podem ajudar suas aulas, respeitando seu estilo, a se tornarem mais dinâmicas.
- Equilíbrio: Tente misturar períodos de trabalho em pequenos grupos, com interações com o grupo todo. E nesse sentido inverta a ordem para que a aula não se torne previsível. Exemplo: um dia o tópico começa a ser discutido em pequenos grupos e, depois do tempo determinado, aberto para a toda a classe. No outro, o tópico começa com todos para depois ser aprofundado em grupinhos ou duplas. Cada pequeno grupo elege quem vai representá-lo na discussão naquele dia e, detalhe, esses representantes não podem ser sempre os mesmos.
- Aprendizado individualizado: Até pouco tempo, era comum algumas autoridades no ensino de línguas, por exemplo, adotarem teorias em que os professores deveriam oferecer aos alunos o material da forma como cada um aprende melhor. Isso significa que se uma aluna aprende melhor de forma visual, os gráficos e power points seriam a saída. Para aquele mais auditivo, gravações, vídeos… Enfim, seguia por aí. A teoria provou ser impraticável. É impossível chegar a este nível de personalização, sobretudo em classes grandes. Mais uma vez, vence a moderação. Idealmente, para manter o nível de interesse de seus alunos, misture as estratégias: leitura, trabalho individual e em grupo, vídeos, jogos, discussões… É importante que todos se sintam de alguma forma atendidos mas que também sejam expostos a outras formas de aprender , por meios diversos, como na “vida real”.
- Move your body: Dependendo da idade dos seus alunos, mantê-los presos às cadeiras pode ser uma tarefa árdua. Use essa energia a favor da dinâmica da aula, crie algumas atividades que os obriguem a mudar de um canto para o outro. Nas minhas aulas de língua, isso sempre foi praxe. Algumas entrevistas que eu propunha tinham de ser feitas em pé. Eles tinham de se mover pela sala para buscar seus entrevistados. Note que no modelo em que eu ensinava isso nem era tão importante do ponto de vista da saúde, porque os alunos mudavam de sala (e muitas vezes de prédio) depois de cada aula. Já numa sala de aula convencional brasileira, desejar que os alunos fiquem estáticos em suas cadeiras é pouco saudável e improdutivo.
- Transforme o espaço: Outro dia compartilhei na newsletter 23 um vídeo falando do Cefam, um programa de treinamento de professores do Estado de São Paulo que acabou há alguns anos. Uma das alunas do programa, hoje professora, lembra que só o fato de chegar na sala e ver as carteiras dispostas em círculo já chamou a atenção. Ela notou que pela primeira vez não estava olhando para a cabeça de alguém à sua frente! Isso é muito sério. Esse convencionalismo se estabeleceu por muitos motivos. Provavelmente por conta do número enorme de alunos em cada sala e do fato de que os alunos ficam nas salas, enquanto quem transita de uma sala para a outra é o professor. Pois bem, você talvez não consiga alterar essa situação mas pode, sim, vez ou outra mudar a disposição das cadeiras; quem sabe num dia sentar-se ao fundo da sala; levar o grupo para outra parte da escola, digamos a bilbioteca, o auditório… É nessa hora que a criatividade pode salvar o dia e para isso você não precisa ser artista!
- Mão na massa: Sei que parece lugar comum, mas aprendizado experiencial é gratificante e dá resultados. Pode conferir, isso não é somente minha opinião. Se você dá aulas de Ciências ou de Artes talvez essa parte da experimentação seja evidente. Em todo caso, em outras disciplinas podem ser aplicáveis. Em literatura, por exemplo. Um texto fala em uma passagem de determinada comida? Preparem o prato juntos (ou uma adaptação dele!) ; uma questão de matemática parece abstrata demais? Faça-os aplicar o aprendizado simulando uma situação real: falar de perímetro e área , por exemplo, usando todo o espaço da escola como objeto de análise. Em Física, a quadra de esporte pode ser cenário de algumas observaçõe (e olha que maravilha se a Física se encontrar com a Educação Física).
- Misture recursos: Se você tem acesso a ferramentas pedagógicas digitais e jogos, use-os, claro, mas lembre-se de variar e de não se prender demasiadamente a certos apps como se fossem os únicos. Tente alternar o uso e espaçá-los para que não percam o encanto ou para que não se tornem (a única) salvação de uma aula chata. Mesmo as brincadeiras mais simples, sem uso de qualquer tecnologia, têm potencial de envolver seus alunos. Saiba usar as novas ferramentas, mas não abandone as atividades que não dependem de wi fi ou de instrumentos digitais.
- Aventure-se além dos muros: Dependendo da cidade onde você ensina, as excursões podem ser mais complicadas e as distâncias maiores. Ainda quando os arredores se mostrem desinteressantes, você pode levar seus alunos a encontrarem um novo valor para algo que eles tenham visto a vida inteira. Uma entrevista com um comerciante local que tenha uma história bacana; um picnic à beira de um rio importante para a cidade, um dia na rotina de um sitiante ou pequeno produtor; uma visita a uma indústria ou horta comunitária local… O importante é que percebam que aprendemos todo dia, dentro e fora da escola.

E, por fim, algo que é a grande bandeira da Claraboia: reflexão. Reserve um tempinho ao fim da aula ou ao princípio da aula subsequente para que junto com seus alunos revejam os objetivos das atividades. Compreenda que isso é válido não somente para fixar e aprofundar o tópico que você está ensinando mas para obter dos alunos a avaliação que fazem sobre determinado tipo de dinâmica adotada. Gostaram? O que foi o melhor e o pior da abordagem? Pensam que poderia melhorar? Gostariam de repetir a experiência?
Criar cursos dinâmicos e divertidos sem perder o foco “da lição”é um desafio enorme e constante mas, acredite, vale cada minuto de preparação.
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Ótimas dicas. Obrigada por compartilhar.
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