O cancioneiro de Aldir Blanc tem muito a nos ensinar

A morte do letrista e escritor carioca Aldir Blanc, neste princípio de maio já tão complicado, emocionou todo o país. O artista deixa um legado de centenas de canções, verdadeiras poesias, que pode também inspirar seu plano de aulas.

O cancioneiro de Aldir Blanc, que morreu dia 4 de maio, vítima de complicações do Covid-19, é vasto e belo. Muitas de suas letras representam momentos históricos e políticos do Brasil. Entre as mais famosa delas, O Bêbado e a Equilibrista, foi celebrizada em gravação de Elis Regina, cantora que laiás emprestou sua voz a vários de seus trabalhos.

Esta em particular trata da anistia aos exilados políticos no final dos anos 70, um processo que se iniciou no período de abertura, num país ainda sob o governo ditatorial do general Ernesto Geisel. Se este tema com toda certeza deve constar da pauta dos que ensinam e aprendem história contemporânea do Brasil, há ainda várias outras canções que fazem referência a temas sociais de relevância.

Temas como a violência urbana retratada em De frente pro crime ou a realidade da vida dos boias-frias, trabalhadores dos canaviais, explorados pelos donos de engenho, na linda O Rancho da Goiabada.

A versatilidade estilística e temática de Blanc fez de seu trabalho uma fonte rica de ideias para inspirar atividades e rodas de conversa, na escola ou na sua comunidade. Acompanhe, por exemplo, a letra da cômica Incompatiblidade de Gênios. Na aula de português, por exemplo, renderia um teatrinho muito engraçado.

Tá lá o corpo estendido no chão
Em vez de rosto, uma foto de um gol
Em vez de reza, uma praga de alguém
E um silêncio servindo de amém

(De frente pro crime)

Trabalhar com música é sempre uma grande pedida e uma grande responsabilidade, porque pode se reduzir a mera distração, se não tiver por trás um embasamento pedagógico estabelecido. Pessoalmente, penso que ainda assim vale a pena e pode funcionar bem mesmo nestes tempos de aula à distância. A arte, dizem, tem efeitos curativos (pelo menos para a alma!).

Seja qual for seu momento, seja você professor ou estudante, vale a pena explorar o Spotify (quem sabe sugerir que um grupo escolha uma playlist) e descobrir ou redescobrir a riqueza da obra de Aldir Blanc, um poeta da canção que, em outro país ou em outras circunstâncias políticas, receberia todas as honrarias devidas aos grandes artistas.

Não deixe passar a oportunidade de honrar a memória de Aldir Blanc levando a preciosidade de seu legado a seus grupos e ao mesmo tempo enriquecendo o conteúdo e a qualidade de suas aulas.

João Candido Felisberto,, o almirante negro. Crédito: Museu Afro-Brasileiro

Abaixo, segue um link para o texto de Tales Pinto (em Brasil Escola), professor de história. No texto, discute-se a letra magnífica de Mestre Sala dos Mares . A canção faz referência a João Cândido, conhecido como o Almirante Negro, líder e heroi da Revolta da Chibata, evento histórico ocorrido no Rio de Janeiro, em 1910.

O autor do texto conta um pouco do que foi a revolta e por que a canção sofreu certa censura à época de seu lançamento, nos anos de chumbo da ditadura. [Aqui um gostinho da letra original, sem os cortes da censura]. O professor ainda sugere algumas formas de se trabalhar a canção em sala de aula.

Se você por acaso usar a canção de forma distinta ou se experimentar seguir as instruções do Tales, conte pra gente como se saiu. E viva a memória de Aldir Blanc!

Ideia de trabalho com a canção Mestre Sala dos Mares, de Tales Pinto

Imagem em destaque: Divulgação

2 comentários em “O cancioneiro de Aldir Blanc tem muito a nos ensinar

  1. Adoro seus textos. E não deixei de me emocionar com o que trata do Aldir Blanc. Quando eu trabalhava com os quintos anos na prefeitura eu usava muito as músicas de protesto nas aulas de História e Língua Portuguesa

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    1. Obrigada, Fátima. Sabe que em duas oportunidades usei vídeos dos festivais da canção em sala de aula e numa delas, inclusive, me emocionei bastante! Meu problema é que quando ensinei sobre música de protesto não me lembrei de usar Aldir Blanc. Hoje me lamento muito por isso. Espero ainda ter esta oportunidade um dia…

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